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Gata, seu namorado é machista: sete sinais de que o boy que parece legal nem é tanto assim.

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Imagem daqui.

Gata, seu namorado é machista.

Sabe quando você olha pra trás e descobre que aquele cara que se dizia super progressista, de esquerda, que dizia respeitar a diversidade, etc e tal, era na verdade bem machista? E sabe quando você se dá conta do quanto você também era machista ao aceitar certas atitudes sem questionar?

Pois é. Hoje sei que eu não me dava conta do quanto de machismo rodeava minha vida, vindo também de mim.

Aí resolvi selecionar sete sinais pra você, gata, que ainda não sacou o machismo nosso de cada dia.

Sinal um: ele diz que te ama, que te acha linda, mas que quer que você deixe o cabelo crescer. Sabe, menina de cabelo curto é meio, sei lá…não dá muito tesão. Daí você deixa o cabelo crescer.

Sinal dois: ele diz que te ama, que te acha linda, mas que adoraria ver sua buceta sempre depiladinha, assim, carequinha mesmo. Aí você vai e depila todo mês, gastando uma grana que você não tem.

Sinal três: ele diz que te ama, que te acha linda, mas que perde o tesão quando te vê de perna peluda. Raspa logo isso aí, vai? Aí você vai e raspa sempre, afinal, perna de mulher peluda é uó, né?

Sinal quatro: ele diz que te ama, que te acha linda, e que quer fazer um ménage à trois – mas só se for com outra menina! Aí você se recusa, porque seu jeito monogâmico de ser diz que também já é demais, mas fica se achando a egoísta, afinal, e o amor livre?? Não importa que você não goste de meninas…afinal, é ele que quer, né?

Sinal cinco: ele diz que te ama, que te acha linda, mas que você precisa parar de comer chocolate, porque tá ficando gordinha igual àquela sua amiga que ele acha horrorosa. Aí você vai e se mata de tanto fazer dieta, só pra ficar bem bonitinha pra ele.

Sinal seis: ele diz que te ama, que te acha linda, mas diz que você ta precisando de uma limpezinha de pele, porque aqueles cravinhos estão muito feios. Aí você vai e faz a limpeza, afinal, temos que buscar a perfeição, né?

Sinal sete: ele diz que te ama, que te acha linda, mas no dia da sua formatura se assusta com a sua coragem de ir de cabelo solto à festa e te pergunta, pasmo: “mas como você conseguiu tirar o frizz?”. Aí você simplesmente explica que passou um gelzinho, coisa básica, pra ficar com o cabelo bacana, e se esquece de questionar: qual o problema do frizz?

É, gata. Se você identificou qualquer um desses sinais no seu boy, tá na hora de repensar seu relacionamento. E se você ainda não conseguiu se desligar do seu machismo de cada dia, tá na hora de parar o mundo, pedir pra descer e pensar na vida.

Eu parei, desci e tô pensando.

 

O machismo nosso de cada dia

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Marcha das Vadias 2012.

Essa semana tá rolando pelas redes sociais a divulgação de uma pesquisa feita pela idealizadora da campanha Chega de Fiu Fiu. A pesquisa, parte da campanha, entrevistou quase 8 mil mulheres e encontrou um percentual de mais ou menos 99% de mulheres que dizem já ter ouvido/sofrido algum tipo de cantada/assédio verbal ou físico nas ruas.

Bem, sobre a pesquisa e a campanha você pode ler aqui e aqui. O que me motivou a escrever esse post não foi explicá-la em si, mas sim compartilhar uma situação que aconteceu comigo no ano passado.

Numa tarde de calor, vestia uma blusinha tomara que caia e uma calça larga, mas que sim, marca um pouco o desenho do meu corpo. E friso esse detalhe antes que me digam: “mas você usava uma roupa provocante?”. Se ela era provocante ou não, não me importa. Uso o que eu quiser. Podem olhar, podem achar bonito, podem achar feio. Mas eu uso o que eu quiser e fim de conversa. Não tem essa de “saia curta demais”, “blusa decotada demais”.

Enfim, o fato é que naquele dia fui a um shopping próximo à minha casa, onde também tem um mercado, e antes de fazer as compras que minha mãe tinha pedido, resolvi dar uma volta e olhar as vitrines. Até que ouço um “oi, tudo bem?”. Educada, olhei e respondi, imaginando até que pudesse conhecer aquele homem de algum lugar, pois me acontece muito de me esquecer da fisionomia das pessoas. Só de olhar para ele, quando respondi, percebi os seus olhares me despindo. Senti nojo, asco. E percebi que minha educação tinha sido, para ele, uma resposta a algum tipo de paquera. E o mais louco foi que eu não consegui simplesmente me virar e ir embora. Era como se, no fundo, eu imaginasse que tinha sido uma impressão errada, e que eu de fato o conhecia de algum lugar.

Então, ele continuou o diálogo dizendo que queria que eu o acompanhasse “até ali” pra conhecer um amigo dele. “Meu filho, que amigo? Tá maluco?”. Obviamente, eu disse que não, que não ia a lugar nenhum, e aí sim saí andando, já ciente de que se tratava de uma paquera imbecil.

Neste ponto eu já estava incomodada, mas até aí tudo bem, era só um cara dando em cima de mim (no meio do shopping. Oi?) e eu dando o fora nele. Não que eu ache isso ideal, mas as pessoas se xavecam por aí, e contanto que não haja invasão e falta de respeito, ok. E de fato, até aquele momento, apesar dos olhares nojentos, ele não tinha de fato me desrespeitado. Só que tudo piorou muito quando, ao sair andando, ele veio atrás de mim, fazendo perguntas, querendo saber por que eu estava ali, o que ia comprar. Eu tentava ignorar, apenas dizendo pra ele sair dali, que já tava me enchendo o saco. Mas ele insistia e ficava falando mole, dizendo que o amigo dele, que “estava ali”, queria me conhecer, e que eu era muito linda e blá blá blá. E eu dizendo “sai daqui, me deixa em paz” e ele continuando a me perseguir. Até que comecei a gritar “você vai parar de me seguir ou eu vou ter que chamar a segurança??”, “Sai daqui!!! Me deixa em paz!!!” e então foi só aí que ele se mancou, percebendo que as pessoas começaram a olhar, e parou de andar atrás de mim.

Fui ao mercado, apavorada, olhando para todos os lados, para me certificar de que ele não estava à espreita. No estacionamento, coberto e deserto, corri pro carro com medo de ser surpreendida e finalmente, estuprada. Foi a pior sensação da minha vida.

Para ele, certamente, o que fez não foi um ato de violência. Era só uma paquera numa tarde de dezembro quente. Qual o mal disso, sua louca? O mal disso, amigo, é que a partir do momento em que eu disse “não, não quero conhecer seu ‘amigo'”, e que você ficou andando atrás de mim, isso foi sim uma violência. Pode não ter sido um estupro, pode não ter sido uma agressão verbal à là “te chupava toda”, mas você ultrapassou uma barreira simbólica muito importante, que foi o meu “não”. Tivesse parado no momento em que eu disse a primeira vez, eu teria lidado com o fato de uma forma leve, pensando “é cada um que me aparece…”. Mas a sua insistência, os seus olhares, o fato de você me perseguir pelo shopping, isso constituiu sim, pra mim, uma forma de agressão. Eu me senti acuada, observada, fragilizada. E se isso não é violento, não sei mais o que é.

Algumas amigas dirão que eu estou exagerando. Que isso não é o mesmo que estupro. E de fato, não é o mesmo que estupro. Mas o princípio é o mesmo: ele ultrapassou uma barreira que não deveria ter ultrapassado. E ele só fez isso porque é homem e eu sou mulher.

Homens e mulheres, na sociedade machista em que vivemos, acham esse tipo de situação normal. Minha própria mãe, naquele dia, fez piada com o assunto: “olha lá, arrasando corações no shopping!”. Fiquei muito triste com esse comentário e chegamos mesmo a ter um leve desentendimento. Mas, finalmente, ela compreendeu o que eu senti e não fez mais esse tipo de brincadeira. Infelizmente, contudo, isso foi só mais um exemplo do modo como a nossa sociedade trata as mulheres: como um objeto digno de todo tipo de intervenção. E isso vai de uma simples baliza que uma mulher, “claro”, é incapaz de fazer (jogue a primeira pedra a mulher que nunca passou pela situação infernal de ter um homem guiando a baliza: “vira, vira, vira! Isso! Volta, volta, volta!”) até a mais cruel realidade dos estupros.

Enfim, isso foi só uma reflexão, provavelmente cheia de contradições e dificuldades. Afinal, também cresci e vivo numa sociedade machista. E me livrar dessa educação é um trabalho que faço diariamente e que todo mundo deveria fazer.

Imagem daqui.

Relógio biológico? Aham, Cláudia, senta lá.

relogiobiologico

“Ah…eu já tenho um príncipe e uma princesa loirinhos…queria tanto um chocolatinho…”

“Ah…mas 40 anos é muito velha pra ser mãe…”

“Ah…queria tanto um sobrinho! Deve ser tão gostoso ser tia…”

Eu queria ver se eu aparecesse grávida e sem dinheiro se todo mundo ia achar tão lindo assim.

E os tempos em que se dizia que era importante namorar bastante, noivar e casar, pra depois pensar em ter filhos? Passou?

Não que eu seja a favor da manutenção do modelo de família tradicional. Quem quer ser pai e mãe aos 8 meses de namoro, beleza. Mãe solteira, que seja. Pai solteiro, pai e pai, mãe e mãe, whatever. Cada um com suas escolhas. A minha: terminar meu mestrado, fazer meu doutorado com sanduíche na França, terminá-lo e prestar um concurso público.

Até lá, crianças não estão nos meus planos. Simples assim.

E se eu resolver que elas podem fazer parte de tudo isso, essa será MINHA escolha e de mais ninguém.

Estamos entendidos?

Imagem daqui.

Sozinha sim, chuchu! Solitária, jamais!

Eu não sei se é porque voltei aos estudos, se é porque tenho lido algumas feministas, se é porque meu último namoro foi bem traumático…não sei bem o que é. Mas o fato é que a cada dia que passa ando cada vez mais feminista, dessas bem radicais, a ponto de menosprezar todo e qualquer tipo de homem.

Veja bem, não é que eu esteja me declarando oficialmente lésbica. Vamos combinar que entre ter imensa preguiça dos homens e passar a gostar sexualmente de mulheres tem um caminho bem longo.  Mas é que quando eu vejo manifestações machistas como a do policial canadense que disse que as mulheres deveriam parar de se vestir como vagabundas se não quisessem ser estupradas, ou como as dos integrantes do CQC que dizem que se está fazendo um favor ao estuprar mulher feia, ah, meo…eu perco total a fé, sabe? hahaha

Eu sei que tem gente legal por aí. Eu sei que tem homem menos machista (duvido que exista algum completamente isento do machismo, contudo). Eu sei que no meu meio, entre as pessoas com quem convivo, o machismo é mais light, por assim dizer. Mas vamos combinar que deve ser uns 2% da população mundial, né?

Daí que quando eu penso que meu ex-namorado vai casar com uma adolescente sobre a qual ele tem total controle (eu fui muita areia pro caminhãozinho dele, #prontofalei), que um cara que conheci uma vez segurava minha mão na hora de atravessar a rua, que o outro quis pagar a conta do bar pra se dar de gostoso com grana, ah, meu! que preguiiiiçaaa de querer começar qualquer coisa, saca??

Então eu fico ÓTEMA sozinha, feliz e contente com as minhas lindas amizades, minha amigas queridíssimas com quem casei sem comer antes.

“Ah, mas no friozinho, alguém com quem dormir juntinho, ir ao cinema, ah, é tão gostoso…” É, é sim, até ele começar a reclamar do seu pé gelado, da sua tosse eterna por causa do tempo seco, dos filmes que vocês escolhe pra ver, da pipoca que você quer comer, e você começar a achar aquela coisa que te atraiu no começo o maior defeito da pessoa. Ou vai me dizer que aquele cara ultra inteligente, que gosta dos filmes mais cabeças, dos livros mais interessantes, que ouve as músicas mais bacanas, depois de um tempo não vira um pedante chato que adoooora mostrar que sabe mais que você? Hein? Hein? Quem nunca? hahaha

Tá, tá, eu sei que o contrário também é verdadeiro e que tudo isso que eu falei também acontece com as mulheres, em relacionamentos héteros, gays e lésbicos. Mas a ideia era ilustrar a junção entre machismo (início do post) e dificuldades do dia-a-dia (parágrafo anterior).

Daí eu continuo me perguntando: pra que, céus, pra que???

Pra que, se eu posso ir ao cinema, ver o filme que eu quiser, a hora que eu quiser, sem querer tentar agradar o rapaz? Pra que, se eu posso ligar o aquecedor se meu pé estiver gelado? Pra que, se eu posso sair de ou ficar em casa sem ter que perguntar o que ele quer fazer? Pra que, se eu consigo atravessar a rua sozinha? Pra que, se graças à minha inteligência eu consigo trabalhar e pagar a minha conta do bar? (Aqui fica só a ressalva de que, se um dia eu casar e por um acaso ganhar menos que meu marido, não, eu não vou me importar dele pagar mais nas contas de casa. Afinal, existe uma coisa chamada “capacidade contributiva”, e se ele ganha mais, que pague mais. Taí meu feminismo: vou sofrer pra pagar igual se ganho menos? No way!)

Então, só pra concluir, você me diz: “Ih, Mari, você vai morrer sozinha…” Daí eu te respondo: “Sozinha sim, chuchu. Solitária, jamais!” Hahah