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Eu prefiro ir ao cinema

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Eu prefiro ir ao cinema a ver um filme em casa. Mil vezes. Milhões de vezes mais. 

Tenho tentado entender essa coisa de ver filme pelo computador, baixar filme, achar sites que passem filmes online (aliás, tem mesmo um ótimo, o Megafilmeshd.net, cheio de coisa legal). De fato, é uma opção ótima, mas para mim ela só é ótima para 2 coisas: ver séries americanas e ver filmes que já saíram de cartaz.

Entre ver filmes na internet e alugar numa locadora qualquer, é claro que também existem diferenças: a primeira delas é a qualidade. Na internet, o som pode estar dessincronizado com a imagem, ou também haver inúmeras interrupções por conta de problemas na conexão. Nada mais insuportável que estar curtindo um filme deitado na sua cama e a merda do círculozinho rodante aparecer dizendo um eterno “carregando”. Ou então (não sei se mais ou menos grave), a imagem ficar congelando de 5 em 5 segundos. É uó.

A segunda diferença é uma coisa que eu costumava gostar muito quando alugava filmes com frequência: olhar para uma prateleira de filmes e ficar horas e horas lendo as sinopses e escolhendo o que ia assistir. Numa tela de computador, a visualização é diferente. Até há sites que tentam fazer uma grade que se assemelha a uma prateleira de locadora, mas não chega aos pés. Se você também é do tipo que não se adaptou aos e-books, é provável que entenda do que estou falando. Afinal, ler um livro no Kindle ou no Ipad não será jamais a mesma coisa que folhear as páginas de um livro de papel. Bem, para mim, o lance dos filmes tem o mesmo impacto.

Mas ok. Também me rendi ao mundo da internet. Embora eu não tenha o menor talento para baixar filmes, se eles vêm facinho assim, que nem no Megafilmeshd, é realmente um passo muito rápido por um motivo muito simples: não te custa nada além do que você já paga pela internet. Porra, é de graça! Como não cair nessa tentação? Aí a gente até releva o eterno “loading”, até se conforma com as imagens congelando – pelo menos até aonde a paciência chegar, quando você desliga o computador e se rende aos canais abertos da tv.

Também tem um outro aspecto que é de uma certa “inclusão”, digamos assim, de quem não pode ir ao cinema ou alugar um filme na locadora. Coloquei “inclusão” entre aspas porque não tenho nenhum dado sobre o assunto e eu sempre desconfio desse discurso otimista sobre a internet ser um espaço de todos e para todos. De todo modo, é inegável que haver filmes, músicas e séries disponíveis gratuitamente pode ao menos ter o potencial de inclusão. E daí que quem não tem tv a cabo ou grana/tempo para ir ao cinema, ao menos pode ver o filme em casa. 

Vamos a um exemplo concreto do mundo de que faço parte: o mundo dos estudantes da Unicamp. Bem, é de mais ou menos conhecimento geral da nação que o transporte público campineiro é um desastre. Tragédia pura (embora haja pesquisas que contradigam o fato, coisa que nunca entendi). Daí que para quem mora em Barão Geraldo, o distrito onde a Unicamp se localiza, pegar um bus até o cinema mais próximo (Shop. Dom Pedro) pode ser uma aventura. É realmente de chorar saber que quem está de carro leva 10 minutos para chegar do centro de Barão ao shopping, e quem pega um busão pode levar até 2h, a depender do dia e do horário. E mais: o melhor cinema da cidade – na minha opinião, o cinema Topázio -, fica a 25km de Barão Geraldo. Portanto, dá pra imaginar a Via Crúcis. 

Enfim, daí que realmente fica extremamente complicado um ser humano sem carro, morando em Barão (e olha que nem tô falando da periferia!), se locomover para um cinema nessa cidade. E daí, tendo a possibilidade de baixar filmes na internet, por que ele vai gastar o dinheiro dele alugando um filme na 100% vídeo ou na PhD? E mais: para os casos de lançamentos do cinema, o cara tem acesso a eles na internet. Então, se chegar o cinema é difícil e se custa caro pagar pelo ingresso, como não preferir baixar? Eu jamais poderia argumentar contra isso, especialmente pq eu tenho um carro e não passo pela Via Crúcis de busão.

Mas daí eu quero falar justamente desse ponto: eu tenho um carro. Posso ir a todos os cinemas da cidade com conforto. Posso ir ao Topázio (do lado de casa), ao Dom Pedro (do outro lado da cidade), ao Iguatemi e ao Galleria (longes também da minha casa). Em alguns raramente vou, por questão de grana (são mais caros) e de qualidade dos filmes (só tem blockbuster hollywoodiano para os quais não tenho paciência). Enfim, o que eu quero dizer é: se vc, morador distante dos cinemas, tem um carro, por que cargas d’água você ainda prefere ver filmes nas condições acima descritas?

Ok, ok, eu sei que o cinema tá caro. É realmente um absurdo. Mas pensa no seguinte: tamanho da tela, qualidade do som, qualidade da imagem, enquadramento, fora o rolê de ver gente, ir ao cinema acompanhado, comentar com os amigos…Enfim! Como isso pode não ser melhor do que ver filmes travando no sofá velho de casa? Será que de vez em quando não compensa o esforço? Que seja pelo menos pra ver algum filme que você acha que realmente vale a pena?

Bem, eu queria deixar claro que eu sei que são diversas as condições das pessoas. Eu sei que tem gente que não pode pagar 10 reais num cinema (qdo a meia entrada tá barata assim). Eu sei que tem lugares na cidade que são muito distantes dos cinemas. Portanto, não é de gente nessa situação de quem eu tô falando.

Na verdade, o meu questionamento fica para os moradores de Campinas (é bom ser específica) que têm uma preguiça estrutural de levantar a bunda de seus apartamentos próprios e pegar seus carros com ar condicionado para ir ao cinema, sabe? Porque, pra mim, simplesmente não é possível que a pessoa ache mesmo preferível ver o filme no computador (mesmo que ela tenha hometheater e as porras todas) a ver o filme na sua qualidade máxima na tela de um cinema. Pra mim, tem gente que tem preguiça e ponto final. E o pior é que essa mesma gente preguiçosa, moradora de Campinas (bato na tecla), não nega esforços para ir a São Paulo, no Espaço Itaú, para ver às vezes o mesmo filme que tá passando no Topázio.

Pra terminar, queria dizer que talvez eu tivesse um dia que fazer uma etnografia na casa das pessoas e entender a relação delas com os filmes e quem sabe perder meu preconceito em relação a elas. Certamente há outras coisas envolvidas nessa preferência, mas eu, nesse momento, estou sendo militante e não acadêmica. E como militante, cheia de meus dogmas, digo: vá ao cinema, colega. É infinitamente melhor.

Nada. Tudo.

Naqueles dias em que dá vontade de jogar tudo pro alto e sair por aí, sem rumo, pra outro mundo, outra vida. Sinto que nunca me adapto, nunca me encaixo, sempre falta um pouco, sempre tem um pouco demais. É fase. Passa. Amanhã tudo ficará bem. E amanhã tudo estará pior. É a vida. É a vida? Tudo tanto faz. Tudo faz diferença. Tudo me incomoda. Tudo é apatia. Ando cansada do que não sei e do que sei demais. Tudo está ótimo, tudo está ótimo. Mas há o vazio, a apatia. Amor demais, amor de menos. Um turbilhão de sentimentos. Uma letargia sem fim. Suspiro sem saber por que.

carro X transporte público

(Peço perdão pelos palavrões que lerão a seguir.)

Lula, você é um cara legal. Sério mesmo, eu gosto de você. Votei 2 vezes em você, mesmo discordando de muita coisa que fez, mesmo sabendo que você sabia do mensalão, mesmo sabendo que sua política desenvolvimentista tinha muitos problemas.

Mas puta que pariu, cara! Por que é que você foi reduzir aquela merda de IPI ao invés de investir dinheiro no fuckin’ transporte público?!?!?! Metrô, ônibus, trem, pelamor!! Mas em nome da ascensão das classes mais baixas, você deu crédito pra galera comprar carro e agora as cidades viraram um caos (coisa que já eram antes)!

Antes que alguém me chame de classista e diga “ah, você tem carro, por que os outros não podem ter?”, eu não estou dizendo que as pessoas não possam ter carro, que “o povão saiu comprando carro, olha aí no que deu”. Não. As pessoas podem ter carro. Claro que podem. Num mundo em que não haja 7 bilhões de habitantes, em que monóxido de carbono não polua e em que as estradas e ruas tenham 5x mais capacidade de suportar a quantidade de carro que está aí.

De que adianta dar crédito pra comprar carro se logo mais as pessoas não vão mais conseguir se locomover nas cidades porque tá tudo entupido?? Exemplifico: 5 anos atrás, quando eu saía da minha casa no Jd. Nova Europa e ia pra Barão Geraldo às 18h, dificilmente eu levava mais do que 45 minutos pra chegar lá. Isso já era muito, dado que em condições normais eu levo uns 20 a 25 minutos. Pois bem, ontem eu levei 1h20 (!!!!!!!) pra chegar em Barão. Ok, chovia. Ok, o semáforo do fim do tapetão tava apagado e não tinha nenhum agente de trânsito pra controlar a zona. Mas olhasse pra dentro dos carros e visse que em cada um deles havia somente o motorista e mais ninguém (como eu, inclusive) pra entender do que eu tô falando. Alguém me diga: isso é sustentável??

E quanto à primeira pergunta que fiz acima, é claro que eu sei a resposta. Afinal, botar na mão da população a responsabilidade total por suas necessidades básicas é política de praxe de qualquer governo, seja do PT ou de qualquer outro partido. Uma lástima.

Ps: Se alguém ainda estiver pensando que sou classista e não quero que o “povão” tenha carro, digo para parar para pensar em lugares onde o transporte público funciona e onde pessoas com o mesmo poder aquisitivo que eu preferem se locomover de metrô ou ônibus. Se funcionasse, venderia meu carro sem pestanejar. Talvez nunca tivesse comprado um. Odeio dirigir e acho que as pessoas jorram todo o seu desrespeito ao ser humano quando estão dentro de suas máquinas potentes. Mas em tempos em que se leva mais de 1h em trajetos que antes se fazia em 30 minutos, imaginem pegar o ônibus em Campinas, pagar 3 absurdos reais por ele, e levar o triplo do tempo? E daí o círculo vicioso está posto. Enquanto ninguém quebrar esse ciclo investindo dinheiro de peso em transporte público, chuchus, estaremos fadados ao caos.

papai noel e a varinha de condão

– ‘O que você quer ganhar do papai noel, minha filha?”

– “Uma varinha de condão!”

E eis que o papai noel leva a varinha de condão…

– “Papai noel, a Ana quebrou a minha varinha de condão e eu fiquei muito brava, mas eu vou consertar!”

– “Eu te dou outra, minha filha.”

E eis que, com a varinha de condão, ainda se teve direito a saia rodada e um chapéu de fada.

Papai noel surgiu  pelo menos 4 vezes na vidinha da Catarina esse ano. Os olhinhos brilharam, ela saiu correndo pra ver de onde vinha o sininho que tocava lá fora. Quando voltou, o saco vermelho, e junto com ele, a ingenuidade doce de uma criança.

Papai noel é um velhinho porco capitalista, é verdade. Mas a magia em torno da sua figura e a alegria nos olhos da criança não pelos presentes, mas pela ideia de alguém que pensou nela e na sua varinha de condão, isso não tem preço.

Só espero que com sua varinha de condão Catarina consiga ser a fada madrinha de todos os nossos natais.

Não é liberdade de expressão, nem argumento. É despeito.

Tão logo a notícia do câncer de Lula veio à tona, as manifestações em relação à sua doença começaram a pipocar pela Internet. Não sou muito assídua no twitter, não sei o que tá rolando por lá, mas infelizmente, no meu feed do facebook, logo vi piadinhas grotescas sobre o Lula e o “pedido” a ele para usar o Sistema Único de Saúde, o SUS.

Na mesma hora bloqueei quem se (in)dignou a postar tamanha estapafúrdia. Recuso-me a ler qualquer outra coisa que alguém que faz piada com a desgraça alheia tem a dizer. Esta não merece o meu tempo, nem o meu respeito.

Felizmente, a maioria das pessoas que sigo no facebook é gente bacana, de boas opiniões, de bom senso. As manifestações contra a esse tipo de piada foram várias, e isso me deixou mais aliviada. Aliviada por saber que ao meu redor estão pessoas com quem consigo conversar, que não são toscas, que respeitam o próximo.

Mas ao mesmo tempo, estou bastante triste e revoltada com esse tipo de situação. A gente tá vivendo uma onda pela “liberdade de expressão” em que os limites, muito tênues, entre falta de respeito e liberdade de dizer o que se pensa, estão sendo o tempo todo ultrapassados. Vide recentes casos de Rafinha Bastos, Danilo Gentilli e toda a trupe do CQC.

Outro dia, conversando com a minha orientadora, falávamos sobre essa onda de piadas de mau gosto. E ela disse uma coisa muito certa: a piada desrespeitosa aparece quando a pessoa não tem mais argumentos para defender seu ponto de vista. Ela não sabe dizer por que não gosta de uma coisa ou de alguém, e parte para a baixaria. E o caso do câncer de Lula é o exemplo mais evidente disso.

Mandar o Lula se tratar pelo SUS não só é uma tremenda ignorância em relação ao que é esse sistema de saúde respeitado no mundo inteiro (e com isso eu não digo que não haja muitos problemas), como é uma manifestação classista enojante. As mesmas pessoas que mandam o Lula se tratar pelo SUS não conhecem um hospital público de perto e vangloriam os Estados Unidos como o país modelo a ser seguido. Só não sabem, é claro, que o sistema de saúde americano é talvez o mais desumano do mundo, em que um paciente que não paga o seguro saúde simplesmente não é atendido em nenhum hospital, e ponto final. Talvez se realizassem o sonho da emigração, entendessem na pele o que é ser pobre num país que caga e anda pra sua saúde, como os EUA.

A piada com o câncer de Lula é, portanto, somente mais uma manifestação de despeito. Lula é de origem pobre. Lula é nordestino. Lula é “analfabeto”. Lula não tem curso superior. Lula não fala inglês. Mas Lula governou o Brasil por 8 anos e deu à classe C acesso a coisas que só a classe B e A possuíam. A classe C comprou carro. A classe C comprou casa. Lula acendeu nessa classe média-alta emergente (especialmente a paulista) um medo (à la Regina Duarte) do contato com gente pobre. Como assim um homem do povo se torna presidente e dá a outras pessoas do povo as mesmas oportunidades que um “cidadão de bem” (e medo tenho eu dessa gente), que paga seus impostos e que come queijo brie no final de semana? Como assim o celular da minha empregada é melhor do que o meu? Como assim o pedreiro que de vez em quando me presta serviço trocou de carro e eu ainda não?

Talvez essas pessoas não digam tudo isso abertamente, talvez elas nem tenham tanta consciência disso. Mas toda vez que eu pergunto “Por que você não gosta do Lula?”, só o que eu escuto é: “Ah, ele é analfabeto”, “Ele não sabe nem falar inglês”, “Ele não fala direito”, “Ah, sei lá, não gosto e ponto.” Isso não é argumento, isso é despeito. Fale sobre uma política pública da qual você discorda (e mesmo quando falam, é sempre sobre o Bolsa Família, que criou um monte de vagabundos que não querem trabalhar…” – mais uma vez, não é argumento), fale sobre uma medida tomada que prejudicou o país, fale sobre a aprovação da construção da usina de Belo Monte, sobre o incentivo à soja na Amazônia, sobre o aumento da dívida interna, sobre a condescendência à corrupção, fale sobre tudo isso, e daí podemos conversar. Mas não me diga que ele é analfabeto. Analfabeto é o Tiririca. E você, paulista, que sempre elege o José Serra e o Geraldo Alckmin, você que elegeu o Tiririca, diga-me onde está a contradição.

Sozinha sim, chuchu! Solitária, jamais!

Eu não sei se é porque voltei aos estudos, se é porque tenho lido algumas feministas, se é porque meu último namoro foi bem traumático…não sei bem o que é. Mas o fato é que a cada dia que passa ando cada vez mais feminista, dessas bem radicais, a ponto de menosprezar todo e qualquer tipo de homem.

Veja bem, não é que eu esteja me declarando oficialmente lésbica. Vamos combinar que entre ter imensa preguiça dos homens e passar a gostar sexualmente de mulheres tem um caminho bem longo.  Mas é que quando eu vejo manifestações machistas como a do policial canadense que disse que as mulheres deveriam parar de se vestir como vagabundas se não quisessem ser estupradas, ou como as dos integrantes do CQC que dizem que se está fazendo um favor ao estuprar mulher feia, ah, meo…eu perco total a fé, sabe? hahaha

Eu sei que tem gente legal por aí. Eu sei que tem homem menos machista (duvido que exista algum completamente isento do machismo, contudo). Eu sei que no meu meio, entre as pessoas com quem convivo, o machismo é mais light, por assim dizer. Mas vamos combinar que deve ser uns 2% da população mundial, né?

Daí que quando eu penso que meu ex-namorado vai casar com uma adolescente sobre a qual ele tem total controle (eu fui muita areia pro caminhãozinho dele, #prontofalei), que um cara que conheci uma vez segurava minha mão na hora de atravessar a rua, que o outro quis pagar a conta do bar pra se dar de gostoso com grana, ah, meu! que preguiiiiçaaa de querer começar qualquer coisa, saca??

Então eu fico ÓTEMA sozinha, feliz e contente com as minhas lindas amizades, minha amigas queridíssimas com quem casei sem comer antes.

“Ah, mas no friozinho, alguém com quem dormir juntinho, ir ao cinema, ah, é tão gostoso…” É, é sim, até ele começar a reclamar do seu pé gelado, da sua tosse eterna por causa do tempo seco, dos filmes que vocês escolhe pra ver, da pipoca que você quer comer, e você começar a achar aquela coisa que te atraiu no começo o maior defeito da pessoa. Ou vai me dizer que aquele cara ultra inteligente, que gosta dos filmes mais cabeças, dos livros mais interessantes, que ouve as músicas mais bacanas, depois de um tempo não vira um pedante chato que adoooora mostrar que sabe mais que você? Hein? Hein? Quem nunca? hahaha

Tá, tá, eu sei que o contrário também é verdadeiro e que tudo isso que eu falei também acontece com as mulheres, em relacionamentos héteros, gays e lésbicos. Mas a ideia era ilustrar a junção entre machismo (início do post) e dificuldades do dia-a-dia (parágrafo anterior).

Daí eu continuo me perguntando: pra que, céus, pra que???

Pra que, se eu posso ir ao cinema, ver o filme que eu quiser, a hora que eu quiser, sem querer tentar agradar o rapaz? Pra que, se eu posso ligar o aquecedor se meu pé estiver gelado? Pra que, se eu posso sair de ou ficar em casa sem ter que perguntar o que ele quer fazer? Pra que, se eu consigo atravessar a rua sozinha? Pra que, se graças à minha inteligência eu consigo trabalhar e pagar a minha conta do bar? (Aqui fica só a ressalva de que, se um dia eu casar e por um acaso ganhar menos que meu marido, não, eu não vou me importar dele pagar mais nas contas de casa. Afinal, existe uma coisa chamada “capacidade contributiva”, e se ele ganha mais, que pague mais. Taí meu feminismo: vou sofrer pra pagar igual se ganho menos? No way!)

Então, só pra concluir, você me diz: “Ih, Mari, você vai morrer sozinha…” Daí eu te respondo: “Sozinha sim, chuchu. Solitária, jamais!” Hahah

deixar morrer ou fazer viver…

Há pouco mais de 15 dias minha cachorrinha, a Sofia, começou a fazer xixi com sangue. Foi aquele susto, claro! Sofia não é de saúde muito forte, sabe? Desde muito nova ela apresenta vários quadros de doenças bizarras e graves.

Começou quando ela tinha uns 2 ou 3 anos, não lembro bem. A bichinha começou a fazer cocô com sangue, desidratar e quase morreu. Resultou que ela teve uma hemorragia intestinal de causa desconhecida. Algum problema com a alimentação, algo como não absorver bem os nutrientes. Chegou a ter um outro episódio desses, mais fraco, um ano mais tarde. Mas desde que começou a comer ração moída com frango e arroz, engordou um pouco (sempre foi bem magrela) e ficou bem.

Há 2 anos, Sofia acordou arrastando as patinhas traseiras. Estava paralítica. Corremos com ela pro veterinário e descobrimos que ela tem uma hérnia na coluna que, sei lá por qual razão, fez com que ela parasse de andar. Tratamento? Corticoide e acupuntura. Muitas sessões de acupuntura regadas a muito choro por ter que deixá-la presa, já que não podia forçar a coluna. Voltou a andar. Hoje manca um pouquinho, puxando a patinha direita, mas se não se é um bom observador, ninguém diz que ela já ficou paralítica.

E então voltamos à data de pouco mais de 15 dias atrás, quando ela acordou urinando sangue. De início, pensamos numa cistite aguda, algo que antibióticos e muita água resolveriam. Ela não chorava de dor, não me preocupei muito. Então o veterinário pede para fazer um ultrassom, porque quadros assim em cães muitas vezes significam pedra no rim ou na bexiga. Certo, vamos lá então. Estica a barriga, vira a bichinha de costas pra poder passar o gelzinho na barriguinha, a veterinária responsável encontra uma ferida na mama. Uma dermatite, talvez. “Peça pro veterinário dela dar uma olhada”.

Ultrassom e raio-x na mão, uma imagem que parecia uma pedra do tamanho de um sonho de valsa e um prognóstico pra mama: “Passe essa pomada. Se não melhorar em 3 dias, pode ser câncer.” Oi? Câncer? Ignorei. Resolvi focar no problema da bexiga, afinal ela teria que fazer uma cirurgia com anestesia geral, abrir a barriga, tirar uma pedra do tamanho de um bombom (Sofia é uma salsichinha, ela é bem pequena, por isso uma pedra do tamanho de um bombom é algo proporcionalmente absurdo). Pedra do tamanho de um bombom que resultou na verdade em 3 pedras menores, iguais a essas brancas de jardim. Impressionante.

Mas mais sério foi, no meio da cirurgia, o veterinário me ligar: “Mariana, a mama dela está bem estranha. Podemos tirar?” Isso é pergunta que se faça? Óbvio que sim! (Ok, acho que muitos “donos” não autorizariam tão facilmente…) Pronto, a pulga atrás da orelha ali se instalou. Foram 15 dias de recuperação, 2 curativos por dia e antibióticos, pensando no assunto: “Será que esse tumor é maligno ou benigno?”

Pois bem, hoje recebi a notícia de que Sofia está com câncer de mama e que é grave, estágio avançado. E daí, acompanhadas de muito choro, me vêm um monte de questões em relação a isso. Pra além da relação de afeto que a gente constroi com esses bichos, hoje vivemos num mundo em que os direitos dos animais praticamente se sobrepõem aos direitos humanos, pelo menos por parte de alguns grupos sociais. Ok, não vou entrar no mérito da validade disso. Não sou ativista dos direitos animais, como carne sem piedade e acho muita coisa um monte de ladainha. Mas vamos pensar naquilo que Foucault chama de “direito de morte e poder sobre a vida”, ou no poder que o soberano tinha de “fazer morrer e deixar viver”, lá no volume 1 do História da Sexualidade – A Vontade de Saber. Não vou explicar o que isso é. Se você tiver interesse, procure o livro aqui ou aqui.

É que como tenho lido esse livro recentemente, fiquei me perguntando em relação a essa história da Sofia qual é o direito que eu tenho de decidir sobre o rumo que o tratamento dela deve tomar. Se o câncer fosse em mim, eu, enquanto ser dotado de Razão, teria o direito, no limite, de escolher se quero ou não seguir um tratamento quimioterápico para me curar (isso, é claro, sem considerar que talvez o Estado me considerasse suicida, e daí isso implica um monte de outras questões). Mas a partir do momento em que a cadelinha de quem eu cuido tem essa doença, sou eu quem deve tomar essa decisão por ela, já que ela não tem a Razão necessária para isso. Pensando “racionalmente”, é claro que eu tenho que tratá-la, não é isso? Ela tem o direito de viver, ela é um ser vivo. Mas que direito tenho eu de tirá-la da rotina dela, levá-la para uma clínica impessoal, cheia de veterinários e agulhas, enfiar um monte de química no corpo dela, fazê-la passar por um monte de efeitos colaterais horríveis como vômitos e diarreias, sendo que agora, hoje, ela está ótima, brincando, aprontando como sempre aprontou, enfim, está na santa paz da vidinha de cachorrinha doméstica? Ela não pode virar e me dizer: “Ei, esquece. Me deixa viver meus últimos dias em paz, na minha casa. Quimioterapia é invenção de vocês, seres humanos. Me deixa aqui no meu canto de cachorro” ou “Por favor, me leve sim ao veterinário, vocês humanos são incrivelmente avançados, podem me salvar. Eu quero viver mais”.

Então fico eu, com esse poder soberano invertido da modernidade que me foi dado sem que eu pedisse, no dilema de decidir se “deixo morrer ou se faço viver”. Conviver com a culpa de não tê-la tratado e deixá-la morrer mais cedo, definhando nos últimos dias? Investir num tratamento que pode como não pode dar certo, e fazê-la sofrer com os efeitos da quimio? Eu juro que não sei o que fazer.

Hoje está sendo um dos dias mais duros da minha vida. A única coisa de que tenho certeza hoje é de que, pelo menos por um longo período de tempo depois que a Sofia morrer (semana que vem ou daqui a 5 anos, vai saber), não quero saber de ter um bicho de estimação sobre o qual terei esse poder soberano horrível. Não quero ter que decidir por nenhum bicho o direito dele de viver ou não, aplicar um direito a priori humano sobre um animal.

E sobretudo não quero sofrer outra vez o que estou sofrendo com a ideia de perder essa cachorrinha que amo tanto.

medo, fobia, pavor

“O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar”
(Lenine)

Quem nunca sentiu medo de nada que atire a primeira pedra. Todo mundo tem medo de alguma coisa.

Os medos variam em grau. A gente pode ter medo de falar com aquela(e) gatinha(o) simpática(o) que não para de olhar pra você, assim, só porque a gente é bem inseguro mesmo. Vai que ela(e) tá olhando pra pessoa atrás de vc! E o mico?

Também temos medo da bronca do chefe por aquele atraso vacilão, só pq na noite anterior rolou uma balada imperdível com os amigos.

Tem o medo de não passar no vestibular. O medo de comprar o ingresso pro show da Any Winehouse e ela não aparecer. O medo de ser assaltado, sequestrado, estuprado, assassinado. Medo da água, medo do fogo. E tem um medo clássico, que muita gente não admite, mas que existe sim, e que em algumas pessoas se transforma até em fobia: o medo da barata.

“Medo de barata?? Ah, Mariana, vc tá zoando, né? O bicho não faz nada!” Aham, é verdade. Não faz mesmo. Aliás, a coitada quando nos vê deve ficar muito mais apavorada, porque ela sabe muito bem que vai morrer logo, logo. Acontece, meus caros, que esse pequeno inseto asqueroso não me dá medo, me dá é pavor. Chega até mesmo a ser uma fobia.

Sabe quando você paralisa diante de alguma coisa? O medo é tão grande que você ou grita e sai correndo ou congela onde está e berra pela ajuda de alguma alma boa? Pois é. Meu coração dispara, começo a suar frio, e me dá vontade de chorar quando vejo uma barata. Tenho medo até dela morta.

Eu cheguei a matar algumas baratas, até mesmo a chinelada (a proximidade e a possibilidade de contato com esse bicho me apavora). Houve até uma vez em que, na noite de natal de 2008, uma barata apareceu no auge do meu estresse na preparação da ceia. Naquela história de que tem que estar tudo à mesa à meia-noite, e a comida que não fica pronta nunca, estava eu lá, fazendo o arroz, quando surge um desses bichos na porta do corredor. Minha falecida tia, que nunca teve medo de bichos, a não ser de ratos e cobras, mas que àquela altura da vida não tinha mais forças pra matar um inseto, viu a barata na porta e só disse, tranquilamente: “Gente, tem uma barata no corredor…” Ah, pra quê? “Aaai, eu não vou matar!”, grita uma de um lado (só tem mulher, praticamente, na minha família). “Eu é que não mato!”, grita a outra. “Ai, tô cuidando da minha filha!”, grita minha irmã. Meu cunhado, então, nem se moveu. Fingiu que não estava acontecendo nada. Gente, eu não sei o que deu em mim. Com toda aquela adrenalina no corpo por conta da ceia, só me lembro de berrar “Cadê a porra do chinelo? Me dá aqui!”, e lá fui eu esmagar a nojenta. Voltei, lavei as mãos e continuei a cozinhar. Memorável.

Eu achei até que tinha melhorado disso. Depois desse evento, matei várias baratas com inseticida (chinelos, só se for fora de mim mesmo). Acontece que, na semana passada, estava mostrando à minha tia onde guardar coisas no meu armário (estou numa empreitada para deixar meu quarto arrumado e ela está me ajudando) e me lembrei de que tinha separado uns papeis de presente que havia encontrado no domingo anterior para dar para ela, que gosta tanto de guardar essas coisas. Tinha os encontrado no armário e os deixei atrás da televisão, justamente para não me esquecer de entregar para ela. Quando peguei nos papeis, uma barata imensa surgiu de dentro deles! Gente, mas eu berrava tanto, eu chorava tanto, eu tremia tanto! Ai, pensar que ela podia ter encostado em mim, subido pelo meu braço!!! Aaargh!! O berro que eu dei assustou até a empregada, que logo correu pro meu quarto para ver se estava tudo bem. Ela não tem medo, ainda bem, e jogou veneno na asquerosa, que se enfiou num buraco entre a parede e o armário embutido e lá dentro (espero) morreu sufocada. Só que não acabou aí. Quando a empregada pegou os papeis pra jogar fora, tinha outra ali escondida!! Dá pra imaginar minha reação, né? Pois é. Pelo menos essa morreu esmagada e eu vi seu cadáver pra confirmar.

Resultado: toda vez que entro no meu quarto agora, meu coração dispara com medo de encontrar outra dessas ali. E daí que me pergunto: como pode um bicho desse tamanho exercer tamanho poder sobre um ser humano? Por que é que a gente tem que sentir tanto medo de um inseto? Porque eu não tenho só nojo, eu tenho pavor mesmo, e não me importo de admitir.

Como pode um sentimento desse invadir o corpo e a mente da gente? Psicanalistas de plantão, uni-vos e respondei a essa inquietação!

Localização

Você sabe o que é “Localização”? Pois é. Eu também não.

Na realidade, estou descobrindo um mundo totalmente novo com esse curso de tradução que estou fazendo. É bem verdade que trata-se de um curso levemente fraco, desses online, que a gente paga o olho da cara pra ter 1h30 de aula por semana. Mas de todo modo, no fim do curso ganho um certificado reconhecido pela Abrates, a Associação Brasileira de Tradutores e Intépretes e ainda por cima, consigo ter uma ideia do que é esse mundo da tradução.

Quando a gente fala de tradução, pelo menos até onde eu conseguia imaginar, a gente sempre pensa em traduzir um currículo, um e-mail, uma carta, o resumo de uma tese. Mas esse mundo é gigante. Ele é muito maior. E esse módulo sobre “Localização” tá me abrindo os olhos pra isso.

Você já parou pra pensar que o “WordPress” foi criado em inglês? E você já reparou que existem versões em outras línguas para ele? Já se deparou com frases bizarras no Facebook do tipo “Mariana foi votada nas eleições”, tradução automática e malfeita da frase “Mariana has voted in the elections”? Já tentou traduzir alguma frase no Google Translator e encontrou uma resposta estranhíssima ao que procurava? Bem, para que Facebook, WordPress, Orkut, Gmail, Yahoo, etc, etc, etc, tenham uma versão em português, existe muito trabalho por trás disso. As empresas que criam não só esses sites, mas também softwares como um editor de imagens ou um conversor de mp3, elas contratam (terceirizando) tradutores profissionais que se especializaram em fazer esse tipo de trabalho. Esse é o tradutor de localização.

Mas como assim localização? Bem, o tradutor deve pegar aquela ideia – seja de um software, de uma rede social ou a campanha publicitária do McDonald’s – e “localizar” para o país receptor desse novo produto. É ele que vai transformar “I’m lovin’ it” em “Amo muito tudo isso”. Foram pessoas como ele que decidiram que “Save a file” no Brasil viraria “Salvar documento” e em Portugal “Guardar ficheiro”.

E a gente olha pra tudo isso com uma naturalidade, né? Mesmo a minha geração – que é um pouco mais jovem que a geração Coca-Cola, mas não é tão tecnológica como a geração pós Muro de Berlim -, mal se lembra da época em que os computadores vinham todos em inglês e que a coisas como “file”, “save as”, “open”, “close” foram as primeiras palavras do vocabulário estrangeiro para parte das crianças brasileiras.

Para complementar isso tudo que tentei explicar – isso porque nem entrei na parte técnica, que é um porre, na verdade -, posto aqui um vídeo daquele programa da Globo News, o “Mundo S.A.”, em que a tradução de localização foi tema. Enjoy it! Aproveite! Profitez-en!